Viva São João, viva o Nordeste!

Hoje dia de São João venho trazer um poema de um poeta que tem grande influência nas nossas raízes nordestinas, tive contato com sua poesia através da banda: Cordel do Fogo Encantado, e vejo nele um representante gigante da nossa poesia de cordel e de nossa cultura regional, falo do mestre:  Zé da Luz.



No sertão coroado de facheiro
Sou canário cantando atrás da grade
Venho hoje pedir em cada cidade
Um cajado do mestre Conselheiro
Minha mente jamais esquece o cheiro
De uma chuva molhando a terra quente
Lavadeira lavando a dor da gente
Preta Velha abanando o fogareiro
Pai Tomás acendendo o candeeiro
No momento que o Sol toca o poente
Toda a minha visão é catingueira
Minha sede é de água de quartinha
Sou o fantasma das casas de farinha
Sou o pedaço de vidro em fim de feira
Ave bala que tem mira certeira
Um cordel de palavra incandescente
Sou a presa afiada da serpente
Que cochila nos pés do cangaceiro
Essa noite eu retalho o mundo inteiro
com a peixeira amolada do repente! 

Esse poema evoca a essência do sertão nordestino, pintando um quadro vívido de suas paisagens, personagens e desafios, ao mesmo tempo em que se assume como uma força poética.

Poeta Zé Da Luz.

Zé da Luz: O Poeta do Povo que Eternizou o Sertão Nordestino

José de Sousa Dantas, o inesquecível Zé da Luz, nascido em 1904 em Itabaiana, Paraíba, foi muito mais que um poeta; foi a voz e a alma do sertão nordestino. Sua trajetória, marcada pela simplicidade e pela vivência humilde, transformou o cotidiano em poesia, deixando um legado cultural que ecoa até hoje.

Zé da Luz se destacou por seus poemas improvisados e cantados, apresentados em feiras e festas, onde ele magistralmente tecia o linguajar popular e as experiências do povo. Seus versos abordavam temas universais como a seca, a vida rural, a política e os costumes regionais, sempre com uma perspicácia crítica e um humor cativante.

Um dos seus trabalhos mais icônicos, "Acauã", é um grito visceral contra a seca implacável, que descreve a desolação da terra e o sofrimento humano através da figura da ave acauã, prenúncio de tempos difíceis. Além disso, Zé da Luz foi um mestre da sátira e do cordel, utilizando esses gêneros para expressar sua veia crítica e seu olhar afiado sobre a realidade. Suas histórias em versos, repletas de personagens típicos e situações cômicas, não apenas divertiam, mas também provocavam a reflexão.

Zé da Luz foi e continua sendo a voz do sertanejo, um poeta que traduziu em versos a riqueza e a complexidade de um povo. Sua obra é um tesouro cultural que celebra a identidade nordestina e nos lembra da força e da beleza que emergem das raízes mais profundas do Brasil.

By: Elizeu Andrade 

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas